sábado, 7 de abril de 2012

Filhos e vontades

Venci a passarela alta, desci as escadas, atravessei a rua e, esbaforida, vi já na esquina que perdera o ônibus. Olhei para o lado e compartilhei um suspiro com a desconhecida ao lado, minha companheira de desventura. Sentamo-nos nos bancos do ponto e nos pusemos a esperar. Eu estava irritada: o esforço em acordar cedo e sair na hora se esvaíra com o azar, e eu chegaria ao trabalho inevitavelmente atrasada. Minha companheira resignava-se. Procurei contato: "pobre sofre". Ela acrescentou: "os ricos também". Não me convenci: "nunca vi filho de rico reclamar..." História: "todo dia é uma luta para fazer o filho da patroa sair da cama". Pensei em minha amiga, diariamente às voltas com a teimosia da filho, e em como os ricos delegam as tarefas mais privadas à criadagem, ainda semi-escravos. Precisa mesmo muita explicação para alienar tanto despautério.